Entendendo o potencial da pecuária de corte brasileira
O Brasil ocupa posição de destaque mundial na pecuária de corte, sendo um dos maiores exportadores de carne bovina e também um dos mercados internos mais robustos. Essa relevância se deve a diversos fatores: a grande extensão territorial, a variedade de pastagens, a tradição na pecuária e a capacidade de adaptação genética dos rebanhos. No entanto, escolher a raça de bovinos adequada para produção de carne é uma decisão estratégica que impacta diretamente a rentabilidade, a qualidade da carne e a competitividade frente aos mercados externos.
As condições brasileiras impõem desafios específicos ao pecuarista. O clima tropical e subtropical, a presença de parasitas, o custo de suplementação alimentar e as exigências do consumidor interno e externo tornam indispensável uma avaliação criteriosa. Algumas raças se destacam pela rusticidade e baixo custo de manejo, enquanto outras são preferidas pelo acabamento da carcaça e pelo marmoreio da carne. O segredo está em alinhar adaptabilidade, qualidade de carne e eficiência produtiva dentro de um mesmo sistema.
Nesse contexto, avaliamos 12 das principais raças bovinas utilizadas no Brasil, considerando tanto zebuínos quanto taurinos e raças compostas. A análise seguiu critérios técnicos aplicáveis à realidade do país, permitindo classificar cada raça em termos de vantagens, limitações e adequação às diferentes estratégias de produção.
Os 5 critérios essenciais para avaliar as raças de corte
Antes de apresentar o ranking, é fundamental compreender os critérios adotados para a avaliação das raças. Foram cinco requisitos centrais, escolhidos com base em estudos da Embrapa, publicações internacionais de zootecnia e demandas comerciais de exportação e mercado interno:
1. Adaptabilidade ao Brasil
O desempenho de uma raça está diretamente ligado à sua capacidade de enfrentar calor intenso, parasitas e pastagens tropicais de menor qualidade nutricional. Animais que se adaptam bem reduzem custos e melhoram a eficiência do sistema.
2. Ganho de peso e conversão alimentar
A eficiência na transformação de pasto ou ração em peso corporal é decisiva. Animais com maior ganho diário e melhor conversão atingem o peso de abate mais cedo e reduzem o ciclo produtivo.
3. Qualidade da carne
O mercado externo exige carne marmorizada, macia e de sabor diferenciado. Mesmo no mercado interno, segmentos premium valorizam cortes mais nobres. Esse critério mede a capacidade da raça em gerar carcaças que atendam a padrões de exportação.
4. Fertilidade e precocidade
Maior fertilidade significa mais bezerros por vaca/ano, e a precocidade sexual permite reposição e crescimento mais rápidos do rebanho. Além disso, animais abatidos precocemente atendem às exigências de países importadores.
5. Rusticidade e custo de manejo
Animais resistentes a doenças, que exigem menos suplementação e demandam menos cuidados, geram economia ao produtor e ampliam a competitividade, especialmente em sistemas extensivos típicos do Brasil.
Metodologia de avaliação aplicada às raças
A análise foi realizada de forma comparativa entre as 12 raças selecionadas: Angus, Charolesa, Hereford, Limousin, Brangus, Beefmaster, Simental, Brahman, Nelore, Santa Gertrudes, Wagyu e Braford. Cada uma foi avaliada em notas de 1 a 10 para os cinco critérios descritos.
A pontuação final resultou da média aritmética das notas, atribuindo o mesmo peso a cada requisito. Esse método permite um panorama equilibrado, considerando tanto o desempenho zootécnico quanto as condições reais de criação no Brasil.
É importante destacar que, embora a nota sintetize a análise, o desempenho de uma raça depende do manejo, da região e do objetivo de mercado. Algumas raças podem se destacar em programas de cruzamento industrial, enquanto outras se adaptam melhor a sistemas exclusivos.
Ranking das 12 melhores raças bovinas para carne no Brasil
1. Santa Gertrudes – média 8,0
Raça composta (Brahman × Shorthorn), apresenta excelente adaptação a regiões quentes, boa fertilidade e rusticidade, além de carne de qualidade aceitável para exportação. É ideal para sistemas extensivos.
2. Beefmaster – média 7,8
Com origem no Texas, o Beefmaster é resultado do cruzamento entre Hereford, Shorthorn e Brahman. Une resistência ao calor, boa fertilidade e habilidade materna. A carne não é tão marmorizada quanto a de taurinos britânicos, mas a raça equilibra bem custo e produtividade.
3. Nelore – média 7,8
Principal raça bovina do Brasil, o Nelore é insuperável em adaptabilidade, rusticidade e baixo custo de manejo. Sua carne não é tão macia quanto a de raças britânicas, mas programas de cruzamento melhoram essa característica, tornando-o fundamental para exportação em volume.
4. Braford – média 7,6
Cruzamento entre Hereford e Brahman, equilibra rusticidade e qualidade de carne. É bastante usado no Sul do Brasil e apresenta bom desempenho tanto em pastagens quanto em confinamento.
5. Brangus – média 7,4
Combina Angus e Brahman, unindo maciez da carne com resistência ao calor. A raça tem ótima aceitação no Brasil, especialmente em programas de carne certificada voltados ao mercado premium.
6. Angus – média 7,2
De origem escocesa, é reconhecida pela maciez e marmoreio excepcionais. Entretanto, exige maior cuidado em climas tropicais e apresenta menor resistência a parasitas. Ideal em confinamentos ou cruzamentos.
7. Brahman – média 7,2
Raça zebuína de grande rusticidade, suportando calor e parasitas tropicais. Tem boa precocidade relativa, mas menor qualidade de carne em termos de marmoreio. Muito usada em cruzamentos para aumentar resistência.
8. Limousin – média 7,0
Raça francesa com alta taxa de ganho de peso e rendimento de carcaça. Apresenta adaptação mediana ao Brasil, mas se destaca em sistemas de cruzamento e confinamento.
8. Simental – média 7,0
De dupla aptidão, carne e leite, é valorizada pela fertilidade e precocidade. Tem desempenho satisfatório em sistemas intensivos e cruzamentos, mas menor resistência em ambientes mais quentes.
10. Charolesa – média 6,8
Conhecida pelo rápido ganho de peso e alta musculatura, é uma raça europeia bastante utilizada em cruzamentos. Sua limitação está na menor rusticidade em climas tropicais.
10. Hereford – média 6,8
Tradicional raça britânica, apresenta boa fertilidade e carne de qualidade, mas menor adaptabilidade às regiões quentes do Brasil. Se desenvolve melhor em áreas de clima temperado, como no Sul.
12. Wagyu – média 5,8
Apesar de ser a raça com carne de maior marmoreio do mundo, ideal para cortes premium e exportações de nicho, sua baixa rusticidade, crescimento lento e elevado custo de manejo limitam sua expansão no Brasil.
Quadro comparativo das raças e notas
Rank | Raça | Adapt. | Ganho/Conv. | Qualidade carne | Fertilidade/Precocidade | Rusticidade/Custo | Média |
---|---|---|---|---|---|---|---|
1 | Santa Gertrudes | 9 | 7 | 7 | 8 | 9 | 8,0 |
2 | Beefmaster | 9 | 7 | 6 | 8 | 9 | 7,8 |
3 | Nelore | 10 | 6 | 5 | 8 | 10 | 7,8 |
4 | Braford | 8 | 7 | 7 | 8 | 8 | 7,6 |
5 | Brangus | 8 | 7 | 7 | 7 | 8 | 7,4 |
6 | Angus | 6 | 8 | 9 | 8 | 5 | 7,2 |
7 | Brahman | 9 | 6 | 5 | 7 | 9 | 7,2 |
8 | Limousin | 6 | 8 | 8 | 7 | 6 | 7,0 |
8 | Simental | 7 | 8 | 7 | 7 | 6 | 7,0 |
10 | Charolesa | 6 | 9 | 8 | 6 | 5 | 6,8 |
10 | Hereford | 6 | 7 | 7 | 8 | 6 | 6,8 |
12 | Wagyu | 5 | 5 | 10 | 5 | 4 | 5,8 |
Conclusão
O ranking mostra claramente que não existe uma raça perfeita para todas as situações. O sucesso da pecuária de corte no Brasil está na escolha estratégica das raças ou na adoção de cruzamentos que combinem rusticidade, ganho de peso e qualidade de carne.
Para quem busca exportação em volume, raças zebuínas e compostas como Nelore, Santa Gertrudes e Beefmaster são as mais indicadas. Já para o mercado premium e exportação de alto valor, Angus, Brangus e até Wagyu em nichos específicos oferecem maior valorização por arroba.
O pecuarista que compreende as particularidades de cada raça e adapta sua produção ao mercado-alvo consegue aumentar a eficiência do rebanho, reduzir custos e alcançar padrões exigidos tanto pelo consumidor brasileiro quanto pelos principais importadores internacionais.
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Fontes pesquisadas:
Santa Gertrudis — The Cattle Site — https://www.thecattlesite.com/breeds/beef/69/santa-gertrudis
Beefmaster — The Cattle Site — https://www.thecattlesite.com/breeds/beef/46/beefmaster
Beefmaster Standard of Excellence — Beefmasters.org — https://beefmasters.org/wp-content/uploads/2024/05/BBU-Standard-of-Excellence-2023.pdf
Beefmaster — Isa Beefmasters — https://isabeefmasters.com/articles_post/
Santa Gertrudis — Oklahoma State University — https://breeds.okstate.edu/cattle/santa-gertrudis-cattle.html
Santa Gertrudis Breeders International — https://santagertrudis.com/sgbi/santa-gertrudis-breed-history/
Santa Gertrudis — Wikipedia (EN) — https://en.wikipedia.org/wiki/Santa_Gertrudis_cattle
Santa Gertrudis — Wikipédia (PT) — https://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Gertrudis_(ra%C3%A7a_bovina)
Nelore — Wikipedia (EN) — https://en.wikipedia.org/wiki/Nelore
Nelore — The Cattle Site — https://www.thecattlesite.com/breeds/beef/75/nelore
Genetic parameters and trends of growth traits in Nelore cattle — Revista USP — https://revistas.usp.br/bjvras/article/view/194204
Reproductive traits selection in Nelore beef cattle — ResearchGate — https://www.researchgate.net/publication/280559910_Reproductive_traits_selection_in_nelore_beef_cattle
Genetic parameters for type classification of Nelore cattle — PubMed — https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23568619/
Characterization of the Temperament and Reactivity of Nellore Cattle — PMC — https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11200586/
Brahman — Wikipedia (EN) — https://en.wikipedia.org/wiki/American_Brahman